Políticas de fortalecimento da Agricultura Familiar como eixo de desenvolvimento sustentável: uma proposta de formação de multiplicadores abordando a importância das tecnologias da informação e comunicação dentro das áreas da Agricultura familiar.
Rossana Moura
Especialista em Inclusão Digital no meio rural.
O acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) é de fundamental importância para os Assentamentos e comunidades camponesas, mas não basta entregar vários computadores para as comunidades. É preciso, sobretudo formar pessoas da própria comunidade a partir de uma metodologia participativa e vinculada à realidade onde os sujeitos estão inseridos para que os mesmos possam conduzir e gerir os espaços digitais de forma autônoma. A idéia é construir conhecimentos e transformar suas realidades com a ajuda das tecnologias. É a partir dessa perspectiva que serão implantados os Territórios Digitais nos territórios da Cidadania.
O projeto Territórios Digitais faz parte do Programa Territórios da Cidadania[1]. Os Territórios Digitais consiste na implantação de Casas Digitais (espaços públicos e gratuitos com acesso a computadores e internet) em assentamentos e comunidades rurais
O objetivo dos Territórios Digitais é disponibilizar acesso às tecnologias digitais de informação e comunicação para aprimorar os processos de gestão da produção; o controle social das políticas públicas; o acesso à informação; e a formação de rede de troca de experiências.
A partir de experiências acumuladas pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural em parceria com a Universidade Federal do Ceará - UFC, Banco do Nordeste do Brasil - BNB e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, dentro de 02 Projetos de Assentamentos – PA no estado do Ceará e 01 PA no Rio Grande do Norte em parceria com o INCRA, Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET (hoje transformado em Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia – IFET) e Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF, detectamos pontos positivos e frágeis para que pudéssemos propor uma metodologia própria para as comunidades do meio rural.
METODOLOGIA
Projeto de Inclusão Digital (Casas Digitais) parte da perspectiva de proporcionar uma cultura digital no âmbito dos Territórios da Cidadania, articulando as novas tecnologias ao processo produtivo, avançando no desenvolvimento sustentável das comunidades camponesas.
Um dos pontos de grande importância nesse processo está acerca da participação dos multiplicadores. Os mesmos atuam de forma voluntária tendo como retorno a experiência e o aprendizado desta atividade. Nesse sentido, ganham os multiplicadores e comunidade.Um dos elementos importantes do processo de Inclusão Digital é a participação das pessoas para o uso dos recursos tecnológicos, assim como proporcionar uma visão crítica das tecnologias e suas potencialidades. Sendo assim, o domínio das ferramentas de informática é apenas um eixo da inclusão considerando o conceito mais amplo de Inclusão Digital..
Partindo do princípio que o ser humano um ser social, histórico e cultural abriga em si uma complexidade de dimensões física, afetiva, intelectual, moral, espiritual, que estão todas interligadas. Essa potencialidade humana somente poderá ser realizada na medida em que o ser humano é livre para produzir a sua existência.
A libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens e mulheres como seres "vazios" a quem o mundo "encha" de conteúdos; (FREIRE, 2007).
Nossa metodologia se funda na possibilidade de contribuir com a formação de multiplicadores críticos, participativos, autônomos, sujeitos da história, com consciência de gênero e de classe e comprometidos com a construção de outro modelo agrícola e agrário para o campo brasileiro. Assim deverá promover diversas situações de aprendizagens que contemplem essa formação, garantindo sempre como ponto de partida o trabalho, a cultura, a pesquisa e as lutas sociais como matrizes formadoras, colocando-se a serviço da construção de um novo sujeito social do campo com ajuda da Cultural Digital.
Propomos a formação em quatro módulos:
Primeiros passos: conhecendo a realidade: Percebemos a importância dos primeiros passos, ou seja, conhecer a realidade de cada localidade, de acordo com a cultura, economia e educação para que possamos focar a capacitação;
O segundo módulo tratará da Formação dos multiplicadores e comunidade/assentamento, sempre com foco no auto diagnóstico feito pela própria comunidade.
Terceiro módulo: O auto diagnóstico será a ferramenta dos multiplicadores para, a partir das perguntas e problemas/dificuldades encontradas, a própria comunidade propor alternativas para conviver com as dificuldades com a ajuda da cultura digital.
Ao final do entendimento do que seja a realidade de cada local, a educação à distância/intercâmbio cultural e virtual serão desenvolvidos de modo contextualizado com a realidade local dos multiplicadores e das famílias a partir da proposta da Educação do campo utilizando o intercambio virtual para a socialização de algumas experiências de Educação do Campo. Os conteúdos serão trabalhados a partir de Eixos Temáticos buscando vivenciar os princípios de interdisciplinaridade viabilizando o diálogo entre as diferentes temáticas na tentativa de superar a fragmentação de conteúdos na perspectiva de se aproximar da construção de uma visão de totalidade do conhecimento.
A partir da base em uma Educação do Campo; Contextualizada e Continuada aos/as assentados/as, agricultores/as residentes nos territórios da Cidadania, a capacitação para o acesso ás tecnologias digitais de informação e comunicação, objetivamos aprimorar os processos organização social nas comunidades da Agricultura Familiar. Bem como nesse processo, reconhecer a realidade das comunidades que vão ser alcançadas pela implantação das Casas Digitais; realizar oficinas de na perspectiva de contribuir com a formação de multiplicadores dialógicos que tenham como princípio tornar as Casas Digitais um espaço educativo, de convívio solidário, de vivência cultural e, sobretudo de construção de conhecimentos que ajudem a resolver problemas das comunidades; realizar oficinas de formação sobre temáticas comunitárias que incorporem as tecnologias digitais em seu desenvolvimento e realizar oficinas de acompanhamento da atuação dos grupos de multiplicadores formandos a partir da realização da formação básica.
Sugerimos a formação de uma equipe local composta de jovens, adolescente e comunidade em geral. Primeiramente na modalidade: Semi Presencial totalizando 388 horas ( a ser discutida com cada comunidade devido ao modo de vida/tempo e espaço de cada região). Trabalharemos por 1 ano, dividido em quatro meses presenciais e 8 meses à distância com visitas eventuais.
A formação será direcionada a dois grupos específicos: grupo dos multiplicadores e outro grupo formado por educadores e membros da comunidade.Desenvolver pesquisas e reflexões sobre as tecnologias agroecologicas adequada ao agrocossistemas, que promove a sustentabilidade cultural, social, econômica e ambiental e a elevação da produtividade na terra. Na perspectiva de contribuir com a formação dos camponeses e da juventude camponesa a partir da proposta e práticas agroecologicas.
Quem é quem no processo, o que sou e o que posso ser:
ü Grupo dos Multiplicadores: Será formado por 24 Jovens e/ou adultos com disponibilidade para conduzir as Casas Digitais voluntariamente com responsabilidade e autonomia. As oficinas de formação acontecerão no período da manhã (7h: 30 às 11h: 30) e da tarde (13h: 00 às 17h: 00).
ü Grupo dos Educadores/comunidade: Será formado por educadores e algumas pessoas da comunidade. Estas terão o compromisso de contribuir com os multiplicadores na organização das Casas Digitais e desenvolverem ações/projetos a partir do uso das tecnologias de informação e comunicação, visando o desenvolvimento da escola e do assentamento/comunidade em seus diversos aspectos: Organizativo, econômico, educativo e cultural. As oficinas de formação acontecerão à noite (19h: 00 às 22h: 00). Essa formação acontecerá a partir da terceira linha de ação.
A partir da primeira etapa ou primeiro módulo, cada agricultor se enxerga como individuo e percebe em qual processo pode contribuir com maior identificação, facilitando assim o processo natural de seleção.
1ª Etapa – Primeiros passos: Conhecendo a realidade
Inicialmente consideramos importante conhecer a realidade onde vivem os sujeitos. Para isso faz-se necessário realizar visitas nas comunidades ou assentamentos com o intuito de diagnosticar as potencialidades e dificuldades de cada localidade e ao mesmo tempo articular as famílias em torno do projeto por meio de reuniões, conversas informais com crianças, jovens e adultos, assim, como a participação em algumas atividades coletivas.
2ª Etapa-Formação dos multiplicadores de assentamento/comunidade.
Inclusão Digital não é apenas a inserção do computador no contexto da comunidade ou Assentamento, é algo que vai muito além. É preciso ajudar e incentivar as famílias a uma cultura digital possibilitando o desenvolvimento pessoal e coletivo nos diversos aspectos através de pesquisas, socialização de saberes e produção de novos conhecimentos que ajudem aos povos viverem melhor no meio que estão inseridos, ou seja, no campo. As temáticas trabalhadas devem está vinculado com os acontecimentos do cotidiano possibilitando os sujeitos criar hipóteses, detectar os problemas e ao mesmo tempo sinalizarem soluções. Esse eixo é organizado em três linhas de ação:
2.1.Capacitação em Informática/ Hardware e Software/Sistema Operacional LINUX - Software Livre.
O objetivo é formar pessoas da própria comunidade para a gestão das Casas Digitais a partir de uma prática coletiva, desde instalação e manutenção preventiva dos computadores até a produção e socialização de conhecimento, para que estes junto à comunidade consigam gerir e conduzir as Casas Digitais com autonomia.
2.2 Formação em Inclusão Digital/ navegação
O objetivo central é possibilitar a comunidade um conhecimento amplo acerca dos recursos básicos da internet e refletir sobre a importância da inclusão digital para o desenvolvimento pessoal e coletivo em vários aspectos através de pesquisas, socialização de saberes e produção de novos conhecimentos.
2.3 Informática Educativa/Comunicação e Educação.
Refere-se à importância da informática educativa para as famílias e para contexto sócio-cultural. Não podemos reduzir o potencial desse instrumento que poderá se tornar pedagógico ensinando coisas supérfluas e desvinculadas da realidade. Literalmente é necessário potencializar a formação dos multiplicadores uma vez que os mesmos precisam dar condições para os usuários utilizarem o laboratório de forma educativa e produzirem conhecimento para rede.
Assim, é necessário ampliar as possibilidades dos multiplicadores ajudarem os usuários fazerem uma leitura de mundo a cerca da cultura digital problematizando e questionando as informações que recebemos diariamente fazendo uma articulação com a realidade que é vivenciada por eles.
3ª etapa - Construindo alternativas para conviver com as dificuldades com a ajuda da cultura digital.
Esta etapa tem como objetivo buscar possibilidades e conhecimentos sobre diversas temáticas que ajudem os agricultores na convivência com o semi-árido com o apoio da cultura digital, na perspectiva de avançar no processo de desenvolvimento sustentável do campo em seus diversos aspectos. Esta etapa será desenvolvida através de oficinas a partir das seguintes temáticas:
3.1 Educação do Campo e Políticas Públicas.
Essa oficina tem objetivo promover um amplo debate sobre Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Campo e as Políticas Públicas assinalando a importância da sociedade civil/população do campo fiscalizar, monitorar e avaliar as condições em que as Políticas Públicas estão sendo desenvolvidas e construídas. Assinalando a importância da luta por políticas públicas de ações afirmativas voltadas para a inclusão social, que se caracteriza como uma ação experimental que busca responder demandas especifica e emergencial da Educação no do Campo que está efetivamente ligada ao um Projeto de Campo e Política Pública.
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3.2 Economia Solidária e Cooperação.
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. Está temática tem como objetivo tecer um debate sobre a economia solidária e cooperação. E discutir sobre as diversas maneiras de produzir e gerar renda, em que não há empregados ou patrões, mas sujeitos que coletivamente desenvolvem atividades na área de bens e de serviços, em que todos se responsabilizam pelo processo de geração de renda, e têm resultados positivas com o trabalho cooperado.
3.3 Educação Ambiental e convivência com o semi-árido.
Essa temática tem como objetivo ajudar na reflexão coletiva dos multiplicadores e educadores/ comunidade assim como também ampliar o conhecimento sobre a Educação Ambiental, sobre seu desenvolvimento histórico e suas relações com as questões políticas e econômicas. Além de propor aos multiplicadores a possibilidade de implementar uma prática de sustentabilidade na convivência com o semi-árido a partir da oficina.
3.4 Agroecologia
3.5. Educação Sexual e Saúde
A oficina tem como objetivo possibilitar aos multiplicadores / comunidade o conhecimento básico sobre Educação sexual e saúde, a partir da criticidade a respeito da cidadania, direitos humanos, políticas públicas, oportunizando a compreensão de que a saúde sexual e reprodutiva de homens e mulheres se faz necessário com um bem de direito e de dever.
Proporcionará discussões e ações a respeito dos conceitos e denominações pertinentes as relações que favoreça melhoria e qualidade de vida familiar, uma vez que trabalhará baseando-se no conhecimento cientifico e popular. Parte da perspectiva de estimular e possibilitar a qualidade de vida a partir de discussões e ações na comunidade junto ao pode local..
3.6 Previdência Social
Essa oficina tem objetivo debater e socializar com os trabalhadores a legislação da previdência social, os planos e benefícios da previdência no setor rural e as formas de recolhimento de acordo com as categorias em que se encaixam cada contribuinte.
Os participantes terão a missão de atuar como multiplicadores dessas informações entre os trabalhadores rurais. .
3.7 Gestão e comercialização da produção
Conhecer e analisar as vocações, potencialidades existentes nas comunidades que possam ampliar as possibilidades de construir um plano de desenvolvimento para a produção primária, secundária e terciária que favoreça o crescimento das cadeias produtivas através de um gerenciamento que possa contribuir para o avanço socioeconômico da produção local.
3.8 Matemática comercial e financeira
O principal objetivo da referida oficina é oferecer aos multiplicadores e comunidade reflexões sobre a importância da Matemática Financeira e Comercial contextualizada, que motive os mesmo o interesse pelo tema e que o ajude a exercer a cidadania criticamente. Além de analisar situações financeiras do seu cotidiano. A proposta é uma abordagem teórica e prática para o tema, levando em conta os princípios básicos da Matemática Financeira e Comercial o uso da taxa de porcentagem como fator e o deslocamento de quantias no tempo.
4ª Etapa - Educação a Distância/ Intercâmbios Culturais e virtuais a partir da proposta de Educação do Campo.
O objetivo central é formar uma rede de intercambio entre os assentamentos e comunidades dos Territórios da Cidadania para discutirem assuntos em comum. Além de socializarem experiências. A idéia é criar uma rede de intercâmbio virtual para possibilitar os jovens e assentados socializarem suas culturas e refletirem e conhecerem a proposta, e a lei e diretrizes e base da Educação do Campo. Essa etapa terá também com objetivo fazer um acampamento mais a distância com visitas eventuais, para que os multiplicadores das Casas Digitais possam ir construindo de forma processual sua autonomia.
Avaliação
A avaliação será um processo contínuo, participativo e democrático, envolvendo todos os sujeitos e momentos do processo educativo, primando pela superação das dificuldades, entraves e desafios surgidos no processo.
Temos como critérios a serem avaliados, os seguintes:
1- Avaliação contínua e cumulativa do desempenho dos multiplicadores com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventual avaliação.
2 - Crescimento da pessoa como ser humano, convivência no coletivo por meio de depoimentos e exposições de produtos desenvolvidos por ela.
3 - Domínio e interação com os temas e áreas de conhecimentos estudados.
Também realizaremos três (03) momentos no início e no meio e no fim do ano com toda a comunidade, com o objetivo de avaliar e planejar o funcionamento das Casas Digitais na perspectiva de ampliar as possibilidades de usar as tecnologias a serviço de melhores condições de vida no campo.
[1] http://www.nead.gov.br/index.php?acao=princ&id_prin=67 site acessado em 24/02/2009 às 11h27minh